sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A BEM-AVENTURANÇA DOS JUSTOS (Salmo 1)

Esse Salmo serve como introdução ao restante do livro. O seu título “Os justos e os ímpios” ou “A felicidade dos justos e o castigo dos ímpios”, é um tema corrente em toda a Escritura. Ele faz um contraste entre o justo e o ímpio, entre a felicidade que aguarda aqueles que são queridos por Deus e entre os que rejeitam os Seus caminhos e seguem seu próprio rumo. Lembremo-nos das palavras de Salomão: “Há caminhos que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”. (Pv 16.25). Muitos dizem que o importante é ser sincero, mas, o autor sagrado nos mostra que não basta ser sincero, pois muitos sinceramente seguem rumo à destruição! Quando o homem rejeita o caminho de Deus revelado em Sua Palavra, não resta mais nada, senão, ilusão.
1.1 Bem-aventurado...
 Essas palavras iniciais nos fazem lembrar o sermão de Cristo, conhecido como o “sermão das bem-aventuranças”, onde ele inicia com essa magnifica palavra: bem-aventurados... Esse termo em hebraico é asher, nome de um dos filhos de Jacó (“Aser”; Gn 30.12,13). Trata-se de um termo plural: “Ó, as alegrias! As bem-aventuranças! As bênçãos!”. O equivalente grego é “feliz” ou “abençoado”.
1.2 Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.
O indivíduo feliz segundo esse Salmo é o homem que não se associa com os ímpios, não anda com aqueles cuja boca vive propalando blasfêmias e escárnios contra o Senhor. É o homem que se desvia do mal, que não compactua com a maldade.
Em contraste com os ímpios que se alegram com as coisas triviais e passageiras do mundo, o salmista alegra-se em obedecer a Deus. O homem feliz é dirigido, não pelos conselhos dos ímpios, mas pelos sábios mandamentos de Deus. Ele segue os mandamentos do Senhor com alegria, pois os mandamentos do Senhor não são penosos (1Jo 5.3). O jugo de Jesus é suave e seu fardo é leve (Mt 11.30).
 O que choca o homem natural é que os valores do reino de Deus são diametralmente contrários aos valores do mundo. O cristão não pode conformar-se com o mundo (Rm 12.1,2), nem tampouco adotar os seus conselhos. Pelo contrário, precisamos nos apegar na Palavra de Deus a fim de alcançarmos firme direção. No pensamento hebraico “meditar” significa, “dizer em voz baixa e suave”. Isso significa que ao lermos as Escrituras, devemos refletir e ponderar, lê-la com singeleza de coração e em espírito de oração, para que Deus nos fale através de Sua Palavra. Conforme nos ensina o salmista, a meditação nas Escrituras não é um pesar ou castigo, mas deve ser algo prazeroso, pois é na Bíblia que encontramos uma direção segura rumo ao lar celestial. Tenhamos sempre em nossa mente as palavras de São Tiago:
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg 1.22-25).
1.3 Árvore... águas...fruto.
 O salmista compara o cristão à uma árvore plantada junto a ribeiros de águas. O profeta Jeremias escreveu: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto ás águas, que estende suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr 17.7,8). Por causa do solo árido de Israel, uma árvore frondosa servia como símbolo de benção.
 A imagem da árvore é frequente na narrativa bíblica. Ela pode simbolizar um reino (Ez 17.24; Dn 4); ou um indivíduo (Sl 52.8; 92.12-14). Essa comparação não é por acaso. Como uma árvore, um cristão verdadeiro é alguém cheio de vida, beleza e frutos duradouros. Assim como uma árvore não pode plantar a si mesma, nenhum pecador pode entrar no reino se não for “plantado” por Cristo (Jo 15.16). Uma árvore que possui raízes superficiais cairá com a tempestade, mas aquela que mantém suas raízes nas profundezas do solo permanecerá. O cristão nominal, sem profundidade, não permanecerá após a tempestade, mas aqueles que tem suas raízes no solo da graça jamais serão abalados. Uma árvore é conhecida pelos seus frutos, um cristão é conhecido pelas suas atitudes e decisões que devem ser pautadas na Palavra de Deus.
1.4 Os ímpios não são assim.
 Aqui há um forte contraste com que o salmista anteriormente descrevia. Ele sai de uma descrição positiva acerca dos justos para uma descrição negativa acerca dos ímpios. Esses, segundo o salmista, são como “a palha que o vento dispersa”. Com essa imagem que é muito comum no ensino do Velho Testamento, o salmista está declarando que os ímpios são como a palha em épocas de colheita, que após serem separadas dos grãos não serviam mais pra nada a não ser para ser jogada fora, pois era imprestável. João Batista usou essas mesmas imagens (árvore, fruto e palha) para advertir os pecadores (Mt 3.7-12).
1.5 Os perversos não prevalecerão no juízo.
Os contrastes entre os justos e os ímpios não são apenas temporais, mas eternos. No dia do julgamento final, o Senhor Jesus Cristo dirá aos perversos:
“Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”. (Mt 7.23).
Mas em contraste com os ímpios, os justos receberão um lugar a “sua direita”, o lugar de favor, e ouvirão as seguintes palavras dos lábios do Grande Rei:
“Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34).
1.6 O Senhor conhece o caminho dos justos.
 Isso não quer dizer apenas que Deus está ciente da existência dos justos, ora, Deus sabe de todas as coisas. Mas o que o salmista tem em mente é o relacionamento pessoal que Deus tem com os Seus. Em Amós Deus diz a Israel: “De todas as famílias da terra a vós somente conheci” (Am 3.2). A Moisés o Senhor declarou: “Achastes graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome” (Êx 33.17). Todas essas passagens falam de um relacionamento íntimo e pessoal. A palavra hebraica yada (“conhecer”) carregava essa conotação de modo tão forte, que foi constantemente empregada como um eufemismo para relações sexuais: “Conheceu Adão a Eva, sua mulher e ela concebeu” (Gn 4.1).
O Novo Testamento também utiliza a palavra conhecer para descrever o relacionamento íntimo e pessoal do Senhor com os seus eleitos. Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Quando Jesus diz aos perversos: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim” (Mt 7.23), Ele está dizendo que esses não desfrutam desse relacionamento pessoal com Ele, não fazem parte do Seu rebanho, não são seus amigos, por isso, por não fazerem parte da aliança com Ele, os ímpios perecerão.   


Rikison Moura, V. D. M

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