Esse Salmo serve como
introdução ao restante do livro. O seu título “Os justos e os ímpios”
ou “A felicidade dos justos e o castigo
dos ímpios”, é um tema corrente em toda a Escritura. Ele faz um contraste
entre o justo e o ímpio, entre a felicidade que aguarda aqueles que são
queridos por Deus e entre os que rejeitam os Seus caminhos e seguem seu próprio
rumo. Lembremo-nos das palavras de Salomão: “Há caminhos que parece direito ao
homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”. (Pv 16.25). Muitos dizem que o
importante é ser sincero, mas, o autor sagrado nos mostra que não basta ser
sincero, pois muitos sinceramente seguem rumo à destruição! Quando o homem
rejeita o caminho de Deus revelado em Sua Palavra, não resta mais nada, senão,
ilusão.
1.1 Bem-aventurado...
Essas palavras iniciais nos fazem
lembrar o sermão de Cristo, conhecido como o “sermão das bem-aventuranças”,
onde ele inicia com essa magnifica palavra: bem-aventurados... Esse termo em hebraico é asher, nome de um dos filhos de Jacó
(“Aser”; Gn 30.12,13). Trata-se de um termo plural: “Ó, as alegrias! As
bem-aventuranças! As bênçãos!”. O equivalente grego é “feliz” ou “abençoado”.
1.2 Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e
de noite.
O indivíduo feliz segundo esse Salmo é o homem que não se associa com os
ímpios, não anda com aqueles cuja boca vive propalando blasfêmias e escárnios
contra o Senhor. É o homem que se desvia do mal, que não compactua com a
maldade.
Em contraste com os
ímpios que se alegram com as coisas triviais e passageiras do mundo, o salmista
alegra-se em obedecer a Deus. O homem feliz
é dirigido, não pelos conselhos dos ímpios, mas pelos sábios mandamentos de
Deus. Ele segue os mandamentos do Senhor com alegria, pois os mandamentos do
Senhor não são penosos (1Jo 5.3). O jugo de Jesus é suave e seu fardo é leve
(Mt 11.30).
O que choca o homem natural é que os valores
do reino de Deus são diametralmente contrários aos valores do mundo. O cristão
não pode conformar-se com o mundo (Rm 12.1,2), nem tampouco adotar os seus
conselhos. Pelo contrário, precisamos nos apegar na Palavra de Deus a fim de
alcançarmos firme direção. No pensamento hebraico “meditar” significa, “dizer
em voz baixa e suave”. Isso significa que ao lermos as Escrituras, devemos
refletir e ponderar, lê-la com singeleza de coração e em espírito de oração,
para que Deus nos fale através de Sua Palavra. Conforme nos ensina o salmista,
a meditação nas Escrituras não é um pesar ou castigo, mas deve ser algo
prazeroso, pois é na Bíblia que encontramos uma direção segura rumo ao lar
celestial. Tenhamos sempre em nossa mente as palavras de São Tiago:
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e
não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte
da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho,
o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se
esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na
lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente,
mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg 1.22-25).
1.3 Árvore... águas...fruto.
O salmista compara o cristão à uma árvore plantada
junto a ribeiros de águas. O profeta Jeremias escreveu: “Bendito o homem que
confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore
plantada junto ás águas, que estende suas raízes para o ribeiro e não receia
quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se
perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr 17.7,8). Por causa do solo árido de
Israel, uma árvore frondosa servia como símbolo de benção.
A imagem da árvore é frequente na narrativa
bíblica. Ela pode simbolizar um reino (Ez 17.24; Dn 4); ou um indivíduo (Sl
52.8; 92.12-14). Essa comparação não é por acaso. Como uma árvore, um cristão
verdadeiro é alguém cheio de vida, beleza e frutos duradouros. Assim como uma
árvore não pode plantar a si mesma, nenhum pecador pode entrar no reino se não
for “plantado” por Cristo (Jo 15.16). Uma árvore que possui raízes superficiais
cairá com a tempestade, mas aquela que mantém suas raízes nas profundezas do
solo permanecerá. O cristão nominal, sem profundidade, não permanecerá após a
tempestade, mas aqueles que tem suas raízes no solo da graça jamais serão abalados.
Uma árvore é conhecida pelos seus frutos, um cristão é conhecido pelas suas
atitudes e decisões que devem ser pautadas na Palavra de Deus.
1.4 Os ímpios não são assim.
Aqui há um forte contraste com que o salmista
anteriormente descrevia. Ele sai de uma descrição positiva acerca dos justos
para uma descrição negativa acerca dos ímpios. Esses, segundo o salmista, são
como “a palha que o vento dispersa”. Com essa imagem que é muito comum no
ensino do Velho Testamento, o salmista está declarando que os ímpios são como a
palha em épocas de colheita, que após serem separadas dos grãos não serviam
mais pra nada a não ser para ser jogada fora, pois era imprestável. João
Batista usou essas mesmas imagens (árvore, fruto e palha) para advertir os
pecadores (Mt 3.7-12).
1.5 Os perversos não prevalecerão no juízo.
Os contrastes entre os justos e os
ímpios não são apenas temporais, mas eternos. No dia do julgamento final, o
Senhor Jesus Cristo dirá aos perversos:
“Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.
(Mt 7.23).
Mas em contraste com os ímpios, os
justos receberão um lugar a “sua direita”, o lugar de favor, e ouvirão as
seguintes palavras dos lábios do Grande Rei:
“Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34).
1.6 O Senhor conhece o caminho dos justos.
Isso não quer dizer apenas que Deus está ciente da
existência dos justos, ora, Deus sabe de todas as coisas. Mas o que o salmista
tem em mente é o relacionamento pessoal que Deus tem com os Seus. Em Amós Deus
diz a Israel: “De todas as famílias da terra a vós somente conheci” (Am 3.2). A
Moisés o Senhor declarou: “Achastes graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo
teu nome” (Êx 33.17). Todas essas passagens falam de um relacionamento íntimo e
pessoal. A palavra hebraica yada
(“conhecer”) carregava essa conotação de modo tão forte, que foi constantemente
empregada como um eufemismo para relações sexuais: “Conheceu Adão a Eva, sua mulher e ela concebeu” (Gn 4.1).
O Novo Testamento
também utiliza a palavra conhecer
para descrever o relacionamento íntimo e pessoal do Senhor com os seus eleitos.
Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me
seguem” (Jo 10.27). Quando Jesus diz aos perversos: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim” (Mt 7.23),
Ele está dizendo que esses não desfrutam desse relacionamento pessoal com Ele,
não fazem parte do Seu rebanho, não são seus amigos, por isso, por não fazerem
parte da aliança com Ele, os ímpios perecerão.
Rikison Moura, V. D. M
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