Esse texto não
irá discutir se a prática de falar em línguas é válida para hoje ou se limitou
apenas aos dias apostólicos. Mas analisar como os cristãos da igreja de Corinto
foram ensinados na prática desse dom espiritual, e como muitas igrejas que hoje
praticam o falar em línguas destoam do ensino de Paulo. Ao analisar as práticas
hodiernas podemos constatar alguns problemas:
Primeiro, a ideia de que quem fala em outras línguas é superior a quem não fala.
Qual irmão de igreja pentecostal nunca ficou constrangido com aquela pergunta: “Quem aqui é batizado com o Espírito Santo?”
Em outras palavras, quem aqui fala em línguas estranhas? A pessoa que não fala fica
constrangida, exatamente porque a ideia é de que quem fala em línguas está
cheio do Espírito Santo, encontra-se em um nível acima dos demais. E quem não
fala está vazio, é um crente de segunda categoria, como se as línguas fossem
status espiritual, ou termômetro para se medir a espiritualidade das
pessoas.
Alguns líderes dão
tamanha importância a esse dom, a ponto de ensinarem que somente quem fala em
línguas estranhas pode ser separado ao ministério cristão. Mas quando vemos Paulo
listando as qualificações dos candidatos ao ministério, não vemos essa
recomendação, e por que não vemos? Simplesmente porque ela inexiste. Foi algo inventado
e assimilado por alguns ministérios.
Segundo, a ideia de que todos podem falar línguas ao mesmo tempo no culto
público. Em muitos lugares, o momento do culto na igreja transforma-se numa
verdadeira confusão, pois todos querem falar em línguas ao mesmo tempo. Isso
não traz nenhuma edificação, pelo contrário, gera escândalo e confusão. Paulo
chega a dizer que se houver algum incrédulo nesse momento de coletividade de
línguas, eles ficarão escandalizados, pensado que os cristãos estão loucos (1Co
14.23).
A recomendação
de Paulo é a seguinte: “No caso de alguém
falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e
isto sucessivamente, e que haja interprete” (1Co 14.27).
Terceiro, que podem falar em línguas no culto público sem que haja interpretação.
O ensino de Paulo é claro: “No caso de
alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito
três, e isto sucessivamente, e que haja interprete. Mas, não havendo
intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus” (1Co
14.27,28). Se não há interpretação o que fala deve manter silêncio. Fazer o
contrário é ser imaturo e desobediente.
Quarto, achar que as línguas é um estado de êxtase, por isso pode falar sem
nenhum controle. Quando interpelamos alguém que fala em outra língua mesmo
não havendo intérprete, a resposta mais comum é dizer que falam sem controle.
Uns dizem que não é possível controlar esse impulso do Espirito, por assim
dizer. Alguns dizem que falam mesmo sem querer. Que vem de modo inesperado. Mas
não é isso que Paulo ensina. Paulo diz que se não há quem interprete as línguas,
aquele que fala se cale (1Co 14.27,28), ou seja, há sim um controle. Assim como
os espíritos dos profetas estão sujeitos aos mesmos, os que falam em línguas
precisam também estarem sob controle.
Quinto, ensinar que o falar em línguas é o selo e a evidência do batismo com o
Espirito Santo. Paulo nos mostra que todos os cristãos são batizados com o
Espírito Santo (1Co 12.13). Mas, embora todo cristão seja batizado com o
Espírito, nem todo cristão fala em língua estranha (1Co 12.30). O que evidência
o batismo com o Espírito não é o falar em línguas e sim a conversão. Pois, “...
Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).
Sexto, ensinar as pessoas a falarem em línguas. Muitos ensinam trejeitos, cacoetes
e formas para assimilar esse dom. Por exemplo, ficar repetindo freneticamente a
palavra glória ou a palavra língua. Mas para esses que assim procedem, convém
lembrar que os dons são distribuídos pelo Espírito Santo como lhe apraz. “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas
essas cousas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente”
(1Co 12.11).
Sétimo, achar que o dom de línguas é superior aos demais dons. A maneira
como se busca esse dom não nos deixa dúvidas do grau de importância que muitos
irmãos dão a ele. Como vimos acima, muitos dão tanta importância ao ponto de
não permitirem candidatos ao ministério que não fale em línguas estranhas.
Paulo ensinou a
igreja que quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas. Ele
escreveu da seguinte maneira: “Eu quisera
que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que
profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas,
salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação” (1Co 14.15).
No capítulo 13 Paulo nos mostra o amor como sendo o dom supremo. Os outros dons
cessarão, mas o amor é perene, jamais terá fim.
Oitavo, achar que a oração em línguas estranhas é superior a oração na língua
pátria. Alguns dizem que quem ora em línguas alcança horizontes mais amplos
de intimidade com Deus. Já vi muitas vezes, pessoas serem chamadas a fazerem
uma oração e começarem a descarregar uma torrente de língua estranha. A
pergunta de Paulo é pertinente: como dirá
o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto o que não entende o que
dizes (1Co 14.16).
Nono, ensinar que as igrejas tradicionais não possuem o Espírito Santo.
Certo pregador, muito requisitado pelos pentecostais, referia-se as igrejas
tradicionais como “igrejas sorveterianas”. Muitos ficam achincalhando membros
das igrejas tradicionais chamando-os de frios, gelados, secos, sem o Espírito
Santo. Mas dizer que não temos o Espírito Santo equivale a dizer que não somos
cristãos, pois como vimos acima o Espírito Santo habita em todo cristão. Será
que é isso mesmo que eles acham? Talvez alguns acreditem que não somos
cristãos, mas conheço muitos irmãos pentecostais que nos amam como irmãos em
Cristo e não subscreve muitos dos exageros listados acima.
Finalizo pedindo
aqueles que falam em línguas que o façam segundo o ensino da Escritura, caso
contrário serão imaturos e tão trabalhosos para a obra de Deus como eram os
cristãos de Corinto.
Respeitosamente,
vosso irmão em Cristo.
Rikison Moura.
Muito bom e claro o texto irmão Rikison. Que o Senhor continue te abençoando. Acerca do ponto 4. Se foi o Espírito Santo que inspirou Paulo a instruir a igreja a utilizar o dom de línguas de maneira ordeira, como pode pois o mesmo Espírito impelir pessoas a desobedecer sua própria instrução? Será que nosso Deus é um Deus de confusão?
ResponderExcluirRikison Moura, parabéns pelo texto bem construído, de argumentação firme e de raciocínio correto!
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