sábado, 27 de fevereiro de 2016

O PROBLEMA DAS LÍNGUAS ESTRANHAS

Esse texto não irá discutir se a prática de falar em línguas é válida para hoje ou se limitou apenas aos dias apostólicos. Mas analisar como os cristãos da igreja de Corinto foram ensinados na prática desse dom espiritual, e como muitas igrejas que hoje praticam o falar em línguas destoam do ensino de Paulo. Ao analisar as práticas hodiernas podemos constatar alguns problemas:

Primeiro, a ideia de que quem fala em outras línguas é superior a quem não fala. Qual irmão de igreja pentecostal nunca ficou constrangido com aquela pergunta: “Quem aqui é batizado com o Espírito Santo?” Em outras palavras, quem aqui fala em línguas estranhas? A pessoa que não fala fica constrangida, exatamente porque a ideia é de que quem fala em línguas está cheio do Espírito Santo, encontra-se em um nível acima dos demais. E quem não fala está vazio, é um crente de segunda categoria, como se as línguas fossem status espiritual, ou termômetro para se medir a espiritualidade das pessoas.   
Alguns líderes dão tamanha importância a esse dom, a ponto de ensinarem que somente quem fala em línguas estranhas pode ser separado ao ministério cristão. Mas quando vemos Paulo listando as qualificações dos candidatos ao ministério, não vemos essa recomendação, e por que não vemos? Simplesmente porque ela inexiste. Foi algo inventado e assimilado por alguns ministérios.
Segundo, a ideia de que todos podem falar línguas ao mesmo tempo no culto público. Em muitos lugares, o momento do culto na igreja transforma-se numa verdadeira confusão, pois todos querem falar em línguas ao mesmo tempo. Isso não traz nenhuma edificação, pelo contrário, gera escândalo e confusão. Paulo chega a dizer que se houver algum incrédulo nesse momento de coletividade de línguas, eles ficarão escandalizados, pensado que os cristãos estão loucos (1Co 14.23).
A recomendação de Paulo é a seguinte: “No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e que haja interprete” (1Co 14.27).
Terceiro, que podem falar em línguas no culto público sem que haja interpretação. O ensino de Paulo é claro: “No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e que haja interprete. Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus” (1Co 14.27,28). Se não há interpretação o que fala deve manter silêncio. Fazer o contrário é ser imaturo e desobediente.  
Quarto, achar que as línguas é um estado de êxtase, por isso pode falar sem nenhum controle. Quando interpelamos alguém que fala em outra língua mesmo não havendo intérprete, a resposta mais comum é dizer que falam sem controle. Uns dizem que não é possível controlar esse impulso do Espirito, por assim dizer. Alguns dizem que falam mesmo sem querer. Que vem de modo inesperado. Mas não é isso que Paulo ensina. Paulo diz que se não há quem interprete as línguas, aquele que fala se cale (1Co 14.27,28), ou seja, há sim um controle. Assim como os espíritos dos profetas estão sujeitos aos mesmos, os que falam em línguas precisam também estarem sob controle.   
Quinto, ensinar que o falar em línguas é o selo e a evidência do batismo com o Espirito Santo. Paulo nos mostra que todos os cristãos são batizados com o Espírito Santo (1Co 12.13). Mas, embora todo cristão seja batizado com o Espírito, nem todo cristão fala em língua estranha (1Co 12.30). O que evidência o batismo com o Espírito não é o falar em línguas e sim a conversão. Pois, “... Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).
Sexto, ensinar as pessoas a falarem em línguas. Muitos ensinam trejeitos, cacoetes e formas para assimilar esse dom. Por exemplo, ficar repetindo freneticamente a palavra glória ou a palavra língua. Mas para esses que assim procedem, convém lembrar que os dons são distribuídos pelo Espírito Santo como lhe apraz. “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas essas cousas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1Co 12.11).  
Sétimo, achar que o dom de línguas é superior aos demais dons. A maneira como se busca esse dom não nos deixa dúvidas do grau de importância que muitos irmãos dão a ele. Como vimos acima, muitos dão tanta importância ao ponto de não permitirem candidatos ao ministério que não fale em línguas estranhas.
Paulo ensinou a igreja que quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas. Ele escreveu da seguinte maneira: “Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação” (1Co 14.15). No capítulo 13 Paulo nos mostra o amor como sendo o dom supremo. Os outros dons cessarão, mas o amor é perene, jamais terá fim.
Oitavo, achar que a oração em línguas estranhas é superior a oração na língua pátria. Alguns dizem que quem ora em línguas alcança horizontes mais amplos de intimidade com Deus. Já vi muitas vezes, pessoas serem chamadas a fazerem uma oração e começarem a descarregar uma torrente de língua estranha. A pergunta de Paulo é pertinente: como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto o que não entende o que dizes (1Co 14.16).
Nono, ensinar que as igrejas tradicionais não possuem o Espírito Santo. Certo pregador, muito requisitado pelos pentecostais, referia-se as igrejas tradicionais como “igrejas sorveterianas”. Muitos ficam achincalhando membros das igrejas tradicionais chamando-os de frios, gelados, secos, sem o Espírito Santo. Mas dizer que não temos o Espírito Santo equivale a dizer que não somos cristãos, pois como vimos acima o Espírito Santo habita em todo cristão. Será que é isso mesmo que eles acham? Talvez alguns acreditem que não somos cristãos, mas conheço muitos irmãos pentecostais que nos amam como irmãos em Cristo e não subscreve muitos dos exageros listados acima.
Finalizo pedindo aqueles que falam em línguas que o façam segundo o ensino da Escritura, caso contrário serão imaturos e tão trabalhosos para a obra de Deus como eram os cristãos de Corinto.
Respeitosamente, vosso irmão em Cristo.    

Rikison Moura. 

2 comentários:

  1. Muito bom e claro o texto irmão Rikison. Que o Senhor continue te abençoando. Acerca do ponto 4. Se foi o Espírito Santo que inspirou Paulo a instruir a igreja a utilizar o dom de línguas de maneira ordeira, como pode pois o mesmo Espírito impelir pessoas a desobedecer sua própria instrução? Será que nosso Deus é um Deus de confusão?

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  2. Rikison Moura, parabéns pelo texto bem construído, de argumentação firme e de raciocínio correto!

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