Os Cânones de Dort, documento histórico da tradição reformada, no
capítulo que trata da Perseverança dos
Santos, nos fala de cinco posicionamentos a respeito desta doutrina: “Satanás a odeia, o mundo zomba dela, os
ignorantes e hipócritas dela abusam, e os hereges a ela se opõe. A noiva de
Cristo, entretanto, sempre a tem amado ternamente e a defendido constantemente,
como um tesouro de inestimável valor” (cap.5, art. 15).
Os Cânones de Dort, afirmam que os
ignorantes e hipócritas abusam desta doutrina. Muitas pessoas têm
distorcido esta doutrina para sua própria condenação. Muitos afirmam que são
salvos, mesmo não dando nenhum fruto digno de arrependimento. Outros, acreditam
que podem ser salvos, mesmo sem crer em Cristo. Esses são abusos grosseiros da
doutrina cristã. Quem pretende viver firmado nessas convicções agarra-se a
ilusão.
Acerca dos hipócritas e dos
demais não regenerados a Confissão de Westminster declara:
“Ainda que os hipócritas e os demais não regenerados possam iludir-se,
em vão, com falsas esperanças e carnal presunção de se acharem no favor de Deus
e em estado de salvação, esperança essa que perecerá...”. [1]
Para aqueles que foram regenerados, a segurança da salvação se baseia
nos seguintes fatos:
1. Na definição bíblica de nossa salvação. Uma das mais belas e
significativas definições da salvação foram ditas pelo Senhor Jesus Cristo. No
capítulo 10 do evangelho de João, Cristo declara o seguinte a respeito de suas
ovelhas.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.
Eu lhes dou a vida eterna...” (10.27,28a).
Nesse pequeno texto nós temos
grandes doutrinas da Escritura, como: eleição
“as minhas ovelhas”. Vocação eficaz “ouvem a minha voz... e me seguem”. Graça salvadora “Eu lhes dou”.
Mas vamos nos concentrar na definição da salvação feita por Jesus. Ele diz que
é vida eterna. Não é vida temporária, é eterna. Não é vida passageira, é
eterna. A graça de Deus revelada em sua vocação nunca mais é retirada.
A regeneração, a nova vida efetuada por Deus é incorruptível: “Pois fostes regenerados não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente” (1Pe 1.23).
João 5.24: “Em verdade, em
verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a
vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”.
2. A promessa de Jesus: “Jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.28). A promessa de
Jesus é que as suas ovelhas jamais perecerão e ninguém pode tirá-las de sua
mão. Essas promessas não podem ser
quebradas, do contrário, ele seria mentiroso.
3. O poder de Deus: “Aquilo
que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”
(Jo 10.29). Jesus fundamenta a
segurança de suas ovelhas na mão poderosa do Pai.
Jesus já havia dito que de sua
mão ninguém pode arrebatar suas ovelhas, mas agora ele acrescenta uma outra
aderência, a mão de seu próprio Pai.
Perseveramos não porque somos
diligentes, fortes ou inteligentes. “Por
causa dos seus pecados remanescentes e também por causa das tentações do mundo
e de Satanás, aqueles que têm sido convertidos não poderiam perseverar nesta
graça se deixados ao cuidado de suas próprias forças. Mas Deus é fiel:
misericordiosamente os confirma na graça, uma vez conferida a eles, e
poderosamente os preserva [na sua graça] até o fim” (Cânones de Dort, 5.3)
A Bíblia nos mostra que somos
guardados pelo poder de Deus: “Que sois
guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se
no último tempo” (1Pe 1.5).
Somente alguém mais poderoso do que Deus poderia roubar suas ovelhas, visto que
ninguém é mais poderoso do que Ele, estamos seguros pelo seu poder.
Paulo expressa essa segurança ao
escrever: “O Senhor me livrará também de
toda obra maligna e me levará salvo para o reino celestial. A Ele, glória pelos
séculos dos séculos. Amém!” (2Tm 4.18).
4. A imutável vontade de Deus (Jo 10.30). Quando Jesus diz “Eu e o
Pai somos um”, Ele está demonstrando a sua divindade. Mas também está mostrando
que tanto o Pai como o Filho, estão comprometidos em um só propósito, que é a
preservação de seu povo. A vontade do Pai está em harmonia com a vontade do
Filho. E qual é a vontade de ambos em relação à segurança de seu povo?
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim
a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que
nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no
último dia” (Jo 6.38,39).
E ainda: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que
me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste
antes da fundação do mundo” (Jo 17.24).
5. A imutável
eleição divina (Rm 8.30). Esse texto mostra que a salvação é algo concebido
na eternidade. Esses elementos elencados por Paulo estão interligados, é a
sequência lógica. Não pode haver um elemento sem o outro. Você não pode ser
predestinado e não atender ao chamado. Cristo disse: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim” (Jo 6.37). Paulo usa
o tempo passado “glorificou” dando a certeza de sua realização. Aqueles que
foram predestinados para a vida eterna jamais se perderão.
6. O eterno amor de
Deus (Rm 8.38-39). Deus nos ama com amor eterno (Jr 31.3). O seu amor é
incondicional. Ele provou o seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo
morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Se Deus nos amou quando erámos
inimigos, porventura, nos deixará agora que somos seus filhos?
7. A natureza do
pacto da graça (Jr 32.40). Deus fez uma aliança com o seu povo. E esta
aliança que Deus fez com o seu povo é eterna e irrevogável. Paulo chega a dizer
em Gálatas 3.15: “Ainda que uma aliança
seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta
alguma coisa”. Ora, se uma aliança
humana não é revogada, quanto mais a aliança divina! (Cf. Sl 89.34; Is 54.10).
8. A intercessão de
Cristo (Rm 8.34; Hb 7.25). Cristo morreu pelo seu povo e vive para
interceder por ele. A intercessão de Cristo é eficaz.
9. O
selo e o penhor do Espírito Santo (Ef 1.13,14). O selo e o penhor do
Espírito Santo é a nossa garantia que jamais nos perderemos. A figura do selo
tem algumas coisas importantes a nos ensinar.
Ø
O selo
fala de direito de posse. Pertencemos ao SENHOR. Somos
propriedade exclusiva de Deus (1Pe 2.9).
Ø O selo fala de segurança e proteção. O
selo romano sobre a tumba de Jesus era a garantia que o túmulo não seria
violado. O selo do Espírito é a garantia que nós não nos perderemos.
Ø O selo fala de autenticidade. Ele
atesta a genuinidade de alguma coisa. O Espírito Santo atesta que nós
pertencemos a Cristo. Ele testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus (Rm 8.16). “Se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).
Ø O selo fala de uma transação comercial
consumada. Cristo nos comprou com o seu sangue. Ele pagou o preço pelo
nosso resgate e o Espírito Santo habitando em nós é o selo desta transação
consumada.
Ø O “penhor” é uma linguagem do mundo
comercial. Deus o Pai lhe deu o Espírito Santo como penhor, como garantia. Uma
garantia de que Deus lhes dará a sua herança final. Uma garantia de que Ele
terminará a sua obra em nós (Cf. Fp 1.6).
A Confissão de fé de Westminster resume brilhantemente o
que expomos até aqui.
“Os que Deus aceitou
em seu Bem-amado, os que chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não
podem decair do estado de graça, nem total nem finalmente; mas, com toda a
certeza, hão de perseverar nesse estado até o fim e estarão eternamente salvos”
(Cap. 17.1)
“Essa perseverança
dos santos não depende do livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto
da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do
mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito, da semente de
Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas essas coisas, vêm a sua
certeza e infabilidade” (Cap. 17.2)
Uma pergunta precisa ser respondida: se o salvo não pode
perder-se, então qual a razão de tantas exortações que a Palavra de Deus coloca
diante de nós? Deus nos preserva através de meios: a leitura e a meditação no
evangelho, com suas exortações e promessas, a oração, a mortificação da carne e
o uso dos sacramentos, são meios que Deus utiliza para o nosso progresso na fé.
Rikison Moura.
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