sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A DIFÍCIL, PORÉM, BÍBLICA DOUTRINA DA REPROVAÇÃO

Muitos cristãos concordam com a primeira parte da declaração da Confissão de Fé de Westminster quando ela declara: “Pelo decreto de Deus e para a manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna...”. Mas a segunda parte, para a maioria esmagadora das pessoas é um grande absurdo, a Confissão diz: “...e outros preordenados para a morte eterna”. [1]
Observem que a Confissão não apenas diz que outros são preordenados para a morte eterna, mas que isso acontece pelo decreto de Deus. Vejam que tanto a eleição como a reprovação fluem da vontade de Deus. Mas existem algumas coisas importantes que devemos considerar.

Na eleição, Deus trabalha ativamente, chamando eficazmente o eleito para a fé em Cristo, pelo seu Espírito. Na reprovação, “foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa de seus pecados”. [2] Aos eleitos, Deus lhes concede aquilo que eles não merecem – o perdão dos pecados e a vida eterna. Aos réprobos, Deus dá exatamente o que eles merecem – condenação, morte eterna. Aos eleitos Deus age com misericórdia, aos réprobos Deus age com perfeita justiça, dando a eles o que seus pecados merecem.
Os teólogos, para descrever os réprobos, utilizam termos como “preteriu”, “passou de largo”, “não contemplou”. Isso significa que Deus, que é livre para conceder ou reter misericórdia (Rm 9.18) é ativo na salvação dos eleitos, mas passa de largo em relação aos réprobos.
Muitos são rápidos em identificar uma “grave falha” nesta doutrina.  Segundo eles, se Deus escolhe uns e não outros, então Deus é injusto. Louis Berkhof rebate com muita perspicácia esta acusação:
“O fato de que Deus favorece alguns e passa por alto a outros, não dá direito à acusação de que sobre ele pesa a culpa de agir com injustiça. Só podemos falar de injustiça quando uma parte pode reivindicar algo de outra. Se Deus devesse o perdão do pecado e a vida eterna a todos os homens seria injustiça se ele salvasse apenas um número limitado deles. Mas o pecador não tem, absolutamente, nenhum direito ou alegação que possa apresentar quanto às bênçãos decorrentes da eleição divina”. [3]
Além disso, se os acusadores querem se estribar na justiça divina, eu ouso lhes perguntar: qual a justa recompensa pelo pecado? O apóstolo Paulo nos responde dizendo que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). Se Deus operasse somente com base em Sua perfeita justiça, todos os pecadores iriam para o inferno.
Sobre a justiça de Deus na condenação dos réprobos, Os Cânones de Dort declaram o seguinte:
“De acordo com seu soberano, justo, irrepreensível e imutável bom propósito, Deus decidiu deixá-los na miséria comum em que se lançaram por sua própria culpa, não lhes concedendo a fé salvadora e a graça de conversão. Para mostrar sua justiça, decidiu deixá-los em seus próprios caminhos e debaixo do seu justo julgamento, e finalmente condená-los e puni-los eternamente, não apenas por causa de sua incredulidade, mas também por todos os seus pecados, para mostrar sua justiça. Este é o decreto da reprovação qual não torna Deus o autor do pecado (tal pensamento é blasfêmia!), mas O declara o temível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado”. [4]
Observem também que a Confissão de Fé de Westminster diz que Deus faz isso (elege e reprova pecadores) para a manifestação de sua glória. A pergunta que fazemos é: como Deus pode ser glorificado na condenação dos ímpios? Ou colocando de outra forma: como a doutrina da reprovação pode trazer glória ao Santo nome de Deus?        
A doutrina da eleição e da reprovação mostram que Deus é Soberano. Sua misericórdia e Sua justiça são gloriosas. Ele é livre para escolher alguns e rejeitar outros. Como diz a Escritura: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” e ainda: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz” (Rm 9. 15, 18).
Assim Deus é glorificado na salvação dos eleitos e na condenação dos réprobos, pois ambas as coisas provém dos gloriosos atributos e propósitos de Deus.
Rikison Moura.



[1] CFW, Capítulo 3, parágrafo 3.
[2] Idem, parágrafo 7.
[3] Teologia Sistemática 4ª edição, Cultura Cristã, p. 108.
[4] 1.15

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