sexta-feira, 18 de setembro de 2015

UM LEÃO CHAMADO FAREL

William Farel é um dos personagens mais enigmáticos da Reforma Protestante do século XVI. Ele não era um erudito, mas causou uma profunda chaga no coração do papismo. Seus sermões eram violentamente dirigidos contra o “anticristo romano”. Sua coragem é comparável à de Lutero, embora Farel pareça-me mais radical do que Lutero. Ele era como um relâmpago. Ousado, destemido, capaz de colocar a sua própria vida em risco, por causa da verdade.
Ele era incansável na obra de Deus. Viajou por vários lugares da Europa, sempre pregando a Palavra de Deus, de maneira tão dura e direta que era quase insuportável. Por onde quer que fosse não passava despercebido, sempre despertando a fúria dos romanistas.

Sua trajetória está marcada por façanhas impressionantes. Certa vez, Farel pregou no cemitério dos dominicanos, sua voz trovejava tão forte e solene, que nem mesmo os sinos do convento que eram tocados com o intuito de silenciar a sua voz, foi capaz de detê-lo.
Outra vez, Farel meteu-se no meio de uma procissão, tomou-lhes a imagem de escultura e jogou no rio. Grande foi o alvoroço e Farel conseguiu escapar de ser espancado pela turba enfurecida.
Em sua primeira estadia em Genebra ocorreu um episódio que demonstra o espírito destemido deste homem. Farel foi convocado por um concílio episcopal, pois esse via a sua pregação como uma afronta aos ensinamentos de Roma. Após calorosas discussões, um dos que ali estavam chamou Farel de “demônio imundo”, e insinuou que ele perturbava a paz da cidade. Ao que ele respondeu dizendo:
Elias disse ao rei Acabe: 'És tu, e não eu, que perturbas a Israel'. Deste modo eu digo, é você e os seus, que perturbam o mundo pelas suas tradições, suas invenções humanas e suas vidas dissolutas ".
Quando Farel deu as costas e saía daquele lugar, alguém disparou contra ele. Farel simplesmente se virou e disse: “Seus tiros não me assustam”.

Outro episódio marcante foi o encontro entre Farel e Calvino. João Calvino intentava viajar para a Alemanha, afim de um lugar tranquilo para estudar. Mas por causa de manobras militares, teve que passar por Genebra. Quando Farel soube de Calvino, ele o procurou e pediu humildemente que ele ficasse em Genebra para ajudá-lo, mas Calvino estava relutante. Foi então que Farel rugiu como um leão e ameaçou o jovem teólogo com estas palavras:
“Eu declaro, em nome de Deus, que se você não nos auxiliar nessa obra do Senhor, o Senhor irá puni-lo por seguir seu interesse em vez de seguir esse chamado”.
Calvino fica tão impressionado com estas palavras que resolve ficar em Genebra, e o resto da história todos nós sabemos.
De fato, uma amizade sincera e grandiosa nasceu no coração desses dois homens. Perto da morte, Calvino escreve para Farel que estava com quase setenta e cinco anos, e pede que ele não venha vê-lo, pois se desgastaria demais, mas Farel, impetuoso como sempre não deu ouvidos a Calvino e veio despedir-se do seu velho e bom amigo. Parte da carta de Calvino a Farel dizia:
"Adeus, meu melhor e mais verdadeiro irmão! E já que é vontade de Deus que você permaneça atrás de mim no mundo, viva consciente da nossa amizade, como algo que foi útil para a Igreja de Deus, de maneira que o fruto disso nos aguarda no céu. Eu suplico, não se fadigue por minha conta. É com dificuldade que consigo respirar, todo momento penso que será o último. É suficiente que eu viva e morra para Cristo, o qual é a recompensa de seus seguidores, tanto na vida quanto na morte. Novamente, adeus aos irmãos”.

Até o fim de seus dias Farel foi fiel a Deus. Seus métodos podem até ser criticados, se forem tomados isoladamente, mas para a obra que Deus chamou Farel a desempenhar, de arrancar tocos, de contestar, confrontar, enfim, fazer o trabalho duro na Seara do Mestre, Farel foi importante e cumpriu esse papel, abrindo caminho para que outros colhessem os frutos do seu árduo trabalho. Não é sem razão que Farel é conhecido como o “Elias da Reforma”, o homem que trovejou e rugiu como um leão contra a falsidade de uma igreja que se afastara do Senhor. A Farel o nosso respeito, a Deus à glória!
Rikison Moura.




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