Aparentemente
essa parece ser uma questão simples, mas não é. Durante séculos verdadeiras
batalhas foram travadas em torno dessa questão. Já nos dias em que o Filho de
Deus andava sobre esta terra, muitas pessoas tinham grandes dificuldades de
responder adequadamente essa questão. Os principais sacerdotes e os fariseus do
seu tempo chamaram-no de embusteiro (Mt 27.63). Séculos se passaram e ainda
hoje milhares e milhares de pessoas precisam lidar com essa questão de suma
importância: quem é Jesus?
Em seu ótimo
livro intitulado fundamentos da Teologia
Reformada, o Rev. Hermisten Maia diz que muitos têm um “alto” conceito de
Jesus: “grande mestre”, “grande revolucionário”, “líder religioso”,
“humanitário”, “profeta”, “quase divino”, “cheio de Deus”, etc. Todavia,
qualquer juízo a respeito de Cristo que, em primeiro lugar, não reconheça o
fato de ele ser Deus encarnado é, na realidade, uma diminuição do seu ser, uma
ofensa, uma blasfêmia, não um “elogio”.[1]
È interessante
notarmos que as religiões do mundo inteiro não rompem totalmente com Cristo,
mas apresenta-O de maneira deformada, mutilada e por fim herética. Então, vamos
observar como as falsas religiões apresentam Jesus Cristo e vamos, em primeiro
lugar, apresentarmos essa questão em termos negativos, ou seja, quem não é
Jesus? E dessa maneira atacarmos frontalmente crenças errôneas á respeito de
Cristo.
Em primeiro
lugar, Cristo não é uma emanação de Deus
como ensinava os gnósticos. A heresia gnóstica foi uma verdadeira chaga maligna
no seio da Igreja. Esses hereges ensinavam, entre outras coisas, que havia um
abismo entre o Deus santo e o homem. Esse Deus não poderia ter nenhum contato
com o homem, pois Deus é essencialmente bom e a matéria é essencialmente má,
logo, foi os anjos que criaram a matéria, e não Deus. Pelo fato de Deus ser
puro, Ele não poderia se comunicar pessoalmente com o homem. Essa comunicação
era feita por uma cadeia interminável de seres intermediários, os “éons”, e o
próprio Cristo era um “éon”, ou uma emanação de Deus. Eles criam que as forças
espirituais do universo eram repositórios da divindade e que agiam como
intermediários entre o Deus altíssimo e o mundo dos homens. [2]
Porém, Paulo coloca o machado da verdade na raiz da heresia e afiança que toda a plenitude, a essência divina,
reside na Pessoa de Cristo (Cl 2.9). È Nele e não nos intermediários angelicais
que a plenitude divina habita na sua totalidade.[3]
Cristo não é um entre os muitos mediadores, como se Ele fosse uma mera criatura
da Divindade. Ele é o próprio Filho de Deus, e também o cabeça, a fonte, o
chefe, e Senhor de todas as hostes angelicais, sejam anjos santos ou decaídos. [4]
O termo grego traduzido por “plenitude” é pleroma.
Trata-se de um termo técnico do vocabulário dos falsos mestres gnósticos e
significava “a soma total dos poderes e atributos divinos”, “a soma total do
que Deus é todo o seu ser e seus atributos”. Essa palavra era usada pelos
gnósticos, mas não lhe atribuíam o mesmo significado que Paulo. Para eles, o pleroma era a origem de todas as “emanações”
por meio das quais os seres humanos poderiam se aproximar de Deus. [5]
Para Paulo, Cristo não é um mero “éon”, mas sim o Senhor de tudo. “Ele é o
cabeça de todo o principado e potestade” (Cl 2.10).
Em segundo
lugar, Cristo não foi o primeiro ser criado
como ensina as Testemunhas de Jeová. Essa seita foi fundada por Charles Taze
Russel, na década de 1870. Eles têm aparência de cristãos, mas estão longe
disso, pois negam doutrinas cardeais da fé cristã como a doutrina da Trindade,
a personalidade do Espírito Santo e a divindade de Cristo. Na tentativa de
darem credibilidade aos seus ensinos, fizeram uma tradução defeituosa das
Sagradas Escrituras, conhecida como Tradução do Novo Mundo (TNM), essa tradução
é tendenciosa, pois conscientemente distorce passagens que falam acerca da
divindade de Cristo.
Por causa de um
entendimento incorreto de Colossenses 1.15: “Este é a imagem do Deus invisível,
o primogênito de toda a criação”.
(grifos do autor), as Testemunhas de Jeová afirmam que Cristo foi o primeiro
ser criado. A palavra grega para primogênito é prototokos e nesse contexto sugere que Cristo tem a preeminência, a
supremacia, a prioridade. Na Bíblia, o termo “primogênito” nem sempre significa
“nascido primeiro”. Deus declarou Davi o primogênito (cf. Sl 89.27), apesar de
ele ser o oitavo filho de Jessé ( 1Sm 16.1ss). Cristo não pode ser o primeiro
ser criado, uma vez que Ele próprio é o Criador de todas as coisas, como
evidência os versículos seguintes:
“Pois, nele, foram criadas todas
as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos,
sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio
dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste”. (Cl
1.16,17).
“Aqui Paulo faz
uma afirmação vital. O universo material e imaterial não são coeternos. Na verdade, somente Deus é eterno. Tanto o
universo material como o imaterial foram criados,
e criados por Cristo!”. [6]
Jesus Cristo é o autor da criação, pois “todas as coisas foram feitas por ele,
e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). “Isto significa que sejam
quais forem os seres angelicais, eles só existem porque Jesus Cristo os criou!
Eles são totalmente subordinados a Cristo, e não poderiam ser de modo algum
superiores a Ele. Contudo, existe mais. È somente por Cristo que “todas as
coisas subsistem”. A palavra sunesteken
significa “sustentar”. O pensamento de Paulo é que não só Cristo trouxe á
existência o mundo visível e o invisível, mas é somente pelo exercício do
presente continuo de seu poder que o universo mantém sua forma. Se por um
momento Jesus parasse de exercer este poder, o cosmos cairia no caos”.[7]
Essa é a grandeza do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele não é o primeiro ser
criado, mas o Criador do universo. Na revelação profética de Isaías, o nome
quádruplo e os atributos do Menino-Messias são: Maravilhoso Conselheiro, Deus
Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz (Is 9.6). A teologia dos hereges não
é apenas defeituosa; é diabólica. A prova doutrinária fundamental do cristão
professo diz respeito ao seu conceito sobre a Pessoa de Jesus. Se ele é um
unitário ou membro de uma seita que nega a divindade de Jesus, não é cristão.
Confiança na divindade de Jesus é a única arma contra a qual, nem o erro, nem o
mal, nem o poder do mundo podem prevalecer.[8]
Em terceiro lugar, Cristo não se tornou Deus como ensinam os mórmons. Esse grupo
sectário foi iniciado por Joseph Smith, em 1830, no norte do Estado de Nova
York. O “Jesus” mórmon não teve nascimento virginal e não foi Deus desde o principio,
mas que se tornou um deus. Certamente
esse não é o Cristo revelado na Palavra de Deus. O testemunho bíblico declara:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo
1.1). Observem que o texto afirma que “o Verbo era Deus”, ele (não se tornou)
Deus, mas sempre foi e sempre será Deus. Nunca houve um momento em que Jesus
não foi Deus. (cf. Is 9.6; Mq 5.2; Jo 1.1; Fp 2.6; Hb 1.8). Não importa até onde tentemos fazer voltar
nossa imaginação, nunca alcançaremos um ponto em que poderemos dizer do Verbo
divino, como Ário: “Houve um dia em que ele não era”.[9]
Antes do mundo e do tempo Cristo já existia. Ele é pré-existente: “Antes que
Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58; comp. Êx 3.14)[10]
Ele é Eterno. Ele é o Pai da Eternidade. Ele não está circunscrito pelo tempo.
O Verbo do Deus eterno só pode ser eterno.[11]
Movimentos heréticos como espiritismo, mormonismo,
jeovismo e outros “ismos” existentes por aí, lutam desesperadamente para
diminuir e menosprezar o Senhorio de Cristo. Eles pensam que podem adorar o Pai
e ao mesmo tempo desonrar o Filho. Agindo assim, eles negam tanto o Pai, quanto
ao Filho, posicionando-se ao lado do anticristo (1Jo 2.22-23; 5.10-12),
permanecendo na morte e debaixo da santa e justa ira de Deus. È impossível ter
um relacionamento correto com o Pai negando Seu Filho Jesus Cristo. Entre o Pai
e o Filho há uma comunhão especial e uma íntima união. Essa união é tão
intrínseca que, quem nega o Filho nega também o Pai ( IJo 2.22,23); aquele que
odeia o Filho, também odeia o Pai (Jo 15.23,24); e quem não honra o Filho, não
honra o Pai que o enviou (Jo 5.23). Essa íntima e indizível relação capacita
Jesus Cristo a dizer: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). O Verbo eterno que
estava no princípio com Deus (Jo 1.1,2), veio “das alturas” a fim de tornar
Deus conhecido dos homens (Jo 3.31). Cristo tem estado “no seio do Pai” (Jo
1.18), ou seja, na mais intima comunhão com Ele. Num momento especifico da História,
o Verbo eterno tornou-se carne (Jo 1.14), e em Cristo a revelação de Deus
encontra o seu clímax (Hb 1.1-3). Jesus é
a perfeita revelação do Pai (Jo 1.18). Cristo revela Deus para nós, pois
ele é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), e “a expressão exata do seu Ser”
(Hb 1.3). O termo traduzido por “revelou” dá origem a nossa palavra exegese e significa “explicar”,
“esclarecer”, “conduzir”. Jesus Cristo explica e interpreta Deus para nós. È
simplesmente impossível entender Deus sem Seu Filho, Jesus Cristo. [12]
Somente alguém que conhece completamente o Pai pode torná-lo totalmente
conhecido. [13] O
Pai e o Filho são um de forma tão completa e o Filho manifesta o Pai de modo
tão perfeito, que ninguém pode honrar o Pai e ao mesmo tempo rejeitar o Filho.
Os adversários de Jesus e os hereges de hoje em dia pensam que podem fazer
isto, mas estão totalmente enganados. O Pai e o Filho estão tão unidos que a
ira de Deus é a “ira do Cordeiro” (Ap 6.16); “o reino de Cristo é o reino de
Deus” (Ef 5.5).
Jesus tinha
plena consciência de quem Ele era. Ele afirmava possuir o que pertence
unicamente a Deus. Ele falou dos anjos
de Deus (Lc 12.8,9; 15.10) como se fossem seus (Mt 13.41). Ele considerava o
reino de Deus (Mt 12.28; 19.14,24; 21.31,43) e os eleitos de Deus (Mc 13.20)
como de sua propriedade. Ele também reivindicou para si a autoridade para
perdoar pecados (Mc 2.5), o que desencadeou uma acusação de blasfêmia contra
ele: “Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados,
senão um, que é Deus?” (v.7). O exercício de perdoar pecados era uma
prerrogativa divina. Jesus também reivindicava poder para julgar o mundo (Mt
25.31) e reinar sobre ele (Mt 24.30; Mc 14.62). Se Jesus não é Deus, Ele perdeu
uma ótima oportunidade de corrigir a concepção de seus discípulos. Quando Tomé
declarou: “Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28), ali havia uma ótima oportunidade
para corrigir uma concepção errada, se fosse o caso, mas Jesus não fez isso. E
por que não fez? Porque Ele tinha consciência de si mesmo, ou seja, era verdadeiramente
Deus! Não importa o quão carismático ou bem intencionado um líder religioso
seja, se ele nega a divindade de Cristo como revelada nas Escrituras ele deve
ser considerado um herege, influenciado pelo espírito do anticristo!
Rikison
Moura, V.D. M
[1]
Hermisten Maia, Fundamentos da Teologia Reformada, (Mundo Cristão) p. 59.
[2]
Ralph P. Martin,
Colossenses e Filemom, introdução e comentário (Vida Nova), p. 90.
[3]
Idem
[4]
Hernandes Dias Lopes,
Colossenses, (Hagnos), p. 131.
[5]
Warren Wiersbe, Comentário
Bíblico Expositivo, vol 6, pp. 153, 165.
[6]
Lawrence O. Richards,
Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento (CPAD) p. 447.
[7] Lawrence O. Richards, op, cit.,
p.447.
[8]
John Stott, I, II, e III
João: Introdução e Comentário (Vida Nova) pp. 90, 151.
[9]
F. F. Bruce, João:
Introdução e Comentário, (Vida Nova) p. 36.
[10]
Aqui Jesus claramente
afirma ser Javé, ou seja, o Senhor do AT. Confira Dt 32.29. Os judeus
entenderam a mensagem, Jesus estava falando como aquEle que falara a Moisés, ou
seja, o Deus vivo, Eterno e Poderoso. Eles, portanto, pegaram em pedras para
atirarem em Jesus, pois consideraram essas palavras uma blasfêmia, tendo em
vista Levítico 24.16.
[11]
F. F. Bruce, João:
Introdução e Comentário, (Vida Nova) p.181.
[12]
Warren Wiersbe, Comentário
Bíblico Expositivo vol. 1, p. 369.
[13]
F. F. Bruce, João,
Introdução e Comentário, (Vida Nova) p. 50.
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