Como prometemos em artigo anterior, vamos demonstrar que as
afirmações socialistas não possuem sustentação bíblica. Vimos
que tem sido comum ouvirmos as seguintes afirmações: “Jesus era
socialista”, “Jesus era de esquerda”, “a igreja primitiva era
comunista”. São essas afirmações que pretendemos responder neste
breve artigo.
1. A igreja primitiva era comunista. Essa é a afirmação de
vários socialistas. Eles se voltam para Atos dos Apóstolos em busca
de sustentação. Afinal de contas, dizem eles, o texto em Atos
afirma:
“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam
suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à
medida que alguém tinha necessidade (...) Da multidão dos que
creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava
exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém,
lhes era comum. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto
os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores
correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se
distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade”
(At 2.44,45; 4.32,34,35).
Ao fazermos algumas considerações sobre esses textos, podemos
perceber que nada tem a ver com o comunismo. Assim como o céu se
alteia sobre a terra, assim também os princípios e os motivos dos
primeiros cristãos se alteiam sobre o comunismo.
Observem os seguintes fatos relacionados à igreja primitiva:
a. Eles não foram coagidos pelo governo a venderem suas posses.
Eles não foram movidos pelo medo, pela coerção violenta, mas
eles foram movidos pelo amor que nutriam uns pelo outros. O seu ato
foi voluntário, coisa que nada tem a ver com o comunismo. No
comunismo há o confisco da propriedade. O proprietário, por meio de
coerção, é obrigado a transferir o que tem ao governo. Portanto, o
voluntarismo dos primeiros cristãos, nada tem a ver com comunismo.
b. Se eles possuíam posses, logo havia um princípio de
propriedade privada. O apóstolo Pedro, reconheceu esse princípio
quando disse: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do
campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não
estaria em teu poder?” (At 5.3,4).
Pedro reconheceu que estava no poder de Ananias fazer o que bem
entendia de sua propriedade, afinal de contas, a propriedade
pertencia a ele. Ananias poderia ter vendido ou não. Poderia ter
dado ou não o dinheiro aos apóstolos. Pedro disse: “Conservando-o,
porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder?”
(At 5.4).
Aliás, esse princípio de propriedade privada é um princípio
bíblico. Logo nos Dez Mandamentos o Senhor Deus ordena: “Não
furtarás” (Êx 20.15). A vontade de Deus é o fundamento do
direito a propriedade. Assim sendo, conforme observa Charles Hodge:
“A propriedade é sagrada, não porque em nossa opinião é uma
instituição útil, e daí inferencialmente aprovada por Deus, mas
porque Ele disse na Bíblia, e diz à própria consciência do homem:
“Não furtarás”. 1
c. O que os cristãos fizeram foi restrito aos cristãos de
Jerusalém e foi algo temporário. Não vemos em outros lugares
isso sendo repetido. Foi algo feito pelos cristãos em Jerusalém, e
logo foi abandonado. “Nunca mais ouvimos de tal coisa em nenhum
outro lugar, nem posteriormente. Portanto, não tem força
preceptiva”. 2
d. Aquele experimento foi realizado sob a égide do amor ao
próximo, algo contrário ao espírito comunista. Os cristãos
amam a Deus e ao próximo. Eles possuem uma fé viva. Uma fé que
opera pelo amor. Esse foi o motivo que levou os cristãos de
Jerusalém a venderem suas propriedades para atender os necessitados.
Eles não visavam um poder tirânico sobre as pessoas. Eles não
visavam o enriquecimento de uns em detrimento da miséria da maioria,
pois é isso que o experimento comunista fez nas nações onde foi
instalado.
2. Jesus era comunista/socialista. Essa é mais uma frase que
tem sido citada constantemente. Mas será que isso tem alguma base
sólida? Para que Jesus seja considerado um comunista ele deve
concordar com os princípios do comunismo. Karl Marx definiu e
resumiu a posição comunista da seguinte maneira: “A teoria dos
comunistas pode ser resumida em uma única máxima: Abolição da
propriedade privada”.
Jesus não poderia ser comunista, pois já vimos que a propriedade é
um direito expresso na Palavra de Deus. Para que Jesus fosse um
comunista teríamos que provar que ele era a favor da abolição da
propriedade privada. Mas foi com base no princípio da propriedade
privada que Jesus contou a parábola do senhor da vinha e dos
trabalhadores assalariados (Mt 20.1-16). O senhor da vinha acertou
pagar um denário aos trabalhadores. E ele começa a contratar
trabalhadores de madrugada, e durante o dia vai chamando mais gente.
Ao cair da tarde, ele mandou pagar o salário, começando dos
últimos, indo até os primeiros. Os que chegaram por último
receberam um denário. Os primeiros pensaram que receberiam mais,
porém receberam também um denário. E começaram a reclamar contra
o proprietário, o qual indagou: “Porventura, não me é
lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos
porque eu sou bom? (v.15).
Portanto, essas insinuações socialistas não passam disso, meras e
tolas insinuações. Como vimos em artigo anterior, esse tipo de
abordagem é uma tentativa de fazer uma conexão entre os ensinos de
Marx com os ensinos de Cristo. Mas esse diálogo é impossível, pois
não pode haver comunhão da luz com as trevas.
Rikison Moura.
1
Teologia Sistemática, Hagnos, p. 1335
2
Idem, p. 1339.
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