Sem dúvidas, a pregação da Palavra de Deus é algo maravilhoso.
Ser comissionado para ser um pregador da Palavra do grande Deus é algo sublime.
Tão sublime que levou o reformador Calvino declarar:
“Entre tantos dotes
preclaros com os quais Deus há exornado o gênero humano, esta prerrogativa é
singular: que digna a Si consagrar as bocas e línguas dos homens, para que
neles faça ressoar Sua própria voz”. [1]
Por outro lado, falar aos homens em nome de Deus é algo que
deve encher os arautos com uma santa reverência, temor e tremor. Afinal de
contas, como escreveu o apóstolo Paulo: “Somos
para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se
perdem. Para com estes, cheiro de morte para a morte; para com aqueles, aroma
de vida para a vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co
2.15,16).
É esta dimensão de responsabilidade que levou e deverão levar
todos aqueles que entenderem a grandiosidade da pregação da Palavra de Deus a
tremerem diante de tal realidade.
Lutero, conhecido por sua ousadia, tremia diante do chamado
para pregar. Quando Stauptiz, o superior de Lutero, o instigou a pregar, Lutero
apresentou várias e várias evasivas, mas como não conseguiu convencer Stauptiz,
em desespero Lutero suplicou que seria melhor, então, que lhe tirassem a vida.
Lutero preferia morrer a ser um pregador, tão aterradora era para ele essa
tarefa.
Em outra ocasião Lutero declarou: “O ofício de pregador é uma tarefa árdua... Eu tenho dito
freqüentemente que, se pudesse voltar atrás, em sã consciência eu preferiria o
trabalho braçal na roda [de moer] e carregar pedras do que pregar um sermão”. [2]
Outro grande reformador, John Knox, também sentiu a tremenda
responsabilidade, o peso de pregar um sermão. Quando foi constrangido a assumir
o ofício, John Knox irrompeu em lágrimas, retirou-se aflito para os seus
aposentos, e por diversos dias esteve aflito com o coração apertado, até o dia
designado para que ele pregasse o seu primeiro sermão.
Tudo isso era o discernimento que eles tinham de tão elevada
tarefa. Eles estudavam arduamente a Escritura e oravam horas a fio para
entregar um sermão. Penso que em nossos dias, falta-nos esse discernimento.
Pessoas que não valorizam o ministério da Palavra, ou vêem a pregação
simplesmente como um meio para a autopromoção. Quem assim enxerga o ministério
da Palavra, não tem a consciência da própria insuficiência. Jamais sentiu na
alma a angústia e o peso de ser um embaixador de Deus. Não é fácil denunciar o
pecado, mostrar a malignidade humana, confrontar os impenitentes e consolar os aflitos
e anunciar com fidelidade a santa lei de Deus. Toda essa árdua tarefa da
pregação deve nos levar a exclamar juntamente com Paulo: Quem, porém, é suficiente para estas coisas?
John Piper, oportunamente escreveu: “Toda pregação genuína está enraizada em um sentimento de desespero”.[3] E ainda:
“É simplesmente estupendo pensar nisto –
quando anuncio a Palavra, o destino eterno de pecadores está suspenso na balança.
Se um pregador não se torna intensamente sério ao refletir sobre isso, as
pessoas aprendem inconscientemente, que as realidades de céu e inferno não são
coisa séria. Não posso deixar de pensar que é isto que está sendo comunicado ao
povo, através da esperteza informal que provém de tantos púlpitos”. [4]
Finalizo com as palavras de Charles Bridges, citadas no
excelente livro do Rev. Paulo Anglada:
“O peso da
responsabilidade ministerial, torna a obra aparentemente mais apropriada aos
ombros de anjos, do que de homens. É, portanto, de se lamentar profundamente,
que qualquer pessoa se intrometa nela, desqualificado para os seus deveres, ou
não impressionado com as suas obrigações”. [5]
Rikison Moura.
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