sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A HESITAÇÃO DOS HOMENS DE DEUS DIANTE DA SUBLIME TAREFA DA PREGAÇÃO.

Sem dúvidas, a pregação da Palavra de Deus é algo maravilhoso. Ser comissionado para ser um pregador da Palavra do grande Deus é algo sublime. Tão sublime que levou o reformador Calvino declarar:
“Entre tantos dotes preclaros com os quais Deus há exornado o gênero humano, esta prerrogativa é singular: que digna a Si consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar Sua própria voz”. [1] 

Por outro lado, falar aos homens em nome de Deus é algo que deve encher os arautos com uma santa reverência, temor e tremor. Afinal de contas, como escreveu o apóstolo Paulo: “Somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para a morte; para com aqueles, aroma de vida para a vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co 2.15,16).
É esta dimensão de responsabilidade que levou e deverão levar todos aqueles que entenderem a grandiosidade da pregação da Palavra de Deus a tremerem diante de tal realidade.
Lutero, conhecido por sua ousadia, tremia diante do chamado para pregar. Quando Stauptiz, o superior de Lutero, o instigou a pregar, Lutero apresentou várias e várias evasivas, mas como não conseguiu convencer Stauptiz, em desespero Lutero suplicou que seria melhor, então, que lhe tirassem a vida. Lutero preferia morrer a ser um pregador, tão aterradora era para ele essa tarefa.
Em outra ocasião Lutero declarou: “O ofício de pregador é uma tarefa árdua... Eu tenho dito freqüentemente que, se pudesse voltar atrás, em sã consciência eu preferiria o trabalho braçal na roda [de moer] e carregar pedras do que pregar um sermão”. [2]
Outro grande reformador, John Knox, também sentiu a tremenda responsabilidade, o peso de pregar um sermão. Quando foi constrangido a assumir o ofício, John Knox irrompeu em lágrimas, retirou-se aflito para os seus aposentos, e por diversos dias esteve aflito com o coração apertado, até o dia designado para que ele pregasse o seu primeiro sermão.
Tudo isso era o discernimento que eles tinham de tão elevada tarefa. Eles estudavam arduamente a Escritura e oravam horas a fio para entregar um sermão. Penso que em nossos dias, falta-nos esse discernimento. Pessoas que não valorizam o ministério da Palavra, ou vêem a pregação simplesmente como um meio para a autopromoção. Quem assim enxerga o ministério da Palavra, não tem a consciência da própria insuficiência. Jamais sentiu na alma a angústia e o peso de ser um embaixador de Deus. Não é fácil denunciar o pecado, mostrar a malignidade humana, confrontar os impenitentes e consolar os aflitos e anunciar com fidelidade a santa lei de Deus. Toda essa árdua tarefa da pregação deve nos levar a exclamar juntamente com Paulo: Quem, porém, é suficiente para estas coisas?
John Piper, oportunamente escreveu: “Toda pregação genuína está enraizada em um sentimento de desespero”.[3] E ainda: “É simplesmente estupendo pensar nisto – quando anuncio a Palavra, o destino eterno de pecadores está suspenso na balança. Se um pregador não se torna intensamente sério ao refletir sobre isso, as pessoas aprendem inconscientemente, que as realidades de céu e inferno não são coisa séria. Não posso deixar de pensar que é isto que está sendo comunicado ao povo, através da esperteza informal que provém de tantos púlpitos”. [4]
Finalizo com as palavras de Charles Bridges, citadas no excelente livro do Rev. Paulo Anglada:
“O peso da responsabilidade ministerial, torna a obra aparentemente mais apropriada aos ombros de anjos, do que de homens. É, portanto, de se lamentar profundamente, que qualquer pessoa se intrometa nela, desqualificado para os seus deveres, ou não impressionado com as suas obrigações”. [5]

Rikison Moura.


[1] Hermisten Costa, Calvino de A a Z, p. 226. 
[2] Citação extraída do Livro: Introdução à pregação Reformada de Paulo Anglada, Knox Publicações, p. 93.
[3] Supremacia de Deus na Pregação, Shedd Publicações, p. 35.
[4] Idem, pp. 52,53
[5] Introdução à Pregação Reformada p. 93. 

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