Esse texto trata de
uma das ferramentas utilizadas num sermão: as ilustrações. Ferramenta essa que
confesso, tem tido pouco uso em minhas débeis mãos, porém, ao analisarmos a
vida e o ministério dos grandes pregadores, podemos perceber que eles tinham
essa ferramenta sempre bem afiada.
As ilustrações possuem
a capacidade de tornar a nossa pregação vívida, trazendo o ouvinte para dentro
do sermão, despertando suas emoções e percepções da verdade falada. Um antigo
provérbio afirma: “Eloquência é converter
ouvidos em olhos”. Penso que foi isso que Matthew Wilks fez quando ilustrou
o seguinte texto: “Vede prudentemente
como andais”. E começou o sermão dizendo: “Vocês já viram um gato andando
em cima de um muro forrado de cacos de vidro de garrafas quebradas? Se já,
vocês têm uma precisa ilustração do que quer dizer a injunção “vede
prudentemente como andais”.
Essa arte foi
empregada com muito sucesso por George Whitefield. Suas ilustrações eram
cativantes, quase palpáveis. Um dia ele retratou a cena de um homem cego e o
seu cão andando na beira de um precipício. O cego sem perceber o perigo que
estava correndo, cada vez mais se aproximava do perigoso abismo, seus pés
estavam quase resvalando pela borda. Enquanto descrevia a cena de forma tão
vívida, o Lorde Chesterfield saltou da cadeira e gritou: “Meu Deus, ele se
foi!”. Ao que Whitefield respondeu: “Não, meu, Lorde, não se foi de vez ainda;
esperemos que se salve”. Depois prosseguiu falando do cego conduzido por sua
razão, demonstrado que um homem conduzido somente pela razão está prestes a
cair no inferno.
As ilustrações prendem
a atenção dos ouvintes, preparando terreno para a aplicação da verdade divina,
tornando fácil a memorização da verdade. Por exemplo, podemos usar a ilustração
de D.L. Moody para reforçar o ensino acerca do perigo de confiar nas riquezas:
“Falaram-me de um
ricaço que morreu recentemente. A morte chegou inesperadamente a ele, como
quase sempre acontece, e ele mandou chamar o seu advogado para redigir o seu
testamento. E se pôs a distribuir as suas propriedades. Quando chegou a vez da
mulher e do filho, disse que queria que eles ficassem com a casa. Mas a criança
não entendia o que era a morte. Ela estava e perto e disse: “Papai, você tem casa
na terra para onde vai?” A flecha atingiu-lhe o coração; porém era tarde
demais. Ele percebeu o seu erro. Não tinha casa nenhuma além do túmulo”.
Um outro mensageiro da
graça que fazia uso genial de ilustrações era Charles Spurgeon. O seu livro lições aos meus alunos, volume 3,
editado pela PES, (Publicações Evangélicas Selecionadas) é dedicado somente a
esse assunto. Como sabemos, Spurgeon possuía um senso de humor natural, nada
forçado ou leviano, mas ele mesmo confessa que algumas pessoas muito delicadas
e especiais expressavam o seu horror pelas histórias que ele contava. Porém,
ele não se abate diante do melindre dessas pessoas, e lembra-se que Deus
abençoou as ilustrações utilizadas por ele, e então, brilhantemente, ele passa
a narrar a seguinte história:
“Um homem levava uma
alabarda e foi atacado por um cachorro pertencente a um nobre. Claro que,
defendendo-se, matou o animal. O nobre ficou muito zangado, e perguntou ao
homem como ousara matar o cão. O homem replicou que, se não o matasse, o cão o
morderia e o despedaçaria. “Bem”, disse o nobre, “mas o senhor não deveria
tê-lo golpeado na cabeça com a alabarda; por que não bateu no cão com o cabo?”
“Meu senhor” respondeu o homem, “eu o teria feito, se ele tivesse tentado
morder-me com a cauda”. Assim, quando lido com o pecado, alguns dizem: “Por que
você não o trata com delicadeza? Por que não lhe fala com linguagem cortês?” E
respondo: “Eu faria isso se ele me mordesse com a cauda; todavia como vejo que
ele me trata rudemente, rudemente o tratarei. E qualquer tipo de arma que me
ajude a matar o monstro, não acharei imprópria para a minha mão”. [1]
Acredito que o que foi
dito acima já foi mais do que suficiente para demonstrar a importância das
ilustrações no sermão. Elas são como janelas que iluminam o edifício. Usando
essa imagem das janelas, o reverendo Spurgeon declarou: “As janelas tornam uma
habitação muito mais aprazível e amena, e assim as ilustrações tornam um sermão agradável e interessante. Um edifício
sem janelas seria uma prisão, e não uma casa, pois seria completamente escura,
e ninguém se interessaria em alugá-lo. Do mesmo modo, discurso sem metáfora é
insípido e fastidioso, e envolve mortificante enfado da carne”.[2]
Porém, o mesmo
Spurgeon alerta para o perigo do exagero:
“Ilustrem, sim, mas não deixem
que o sermão seja todo ele ilustrações, caso em que só será próprio para uma
assembleia de simplórios. Um livro se beneficia pelas gravuras da ilustração,
mas um álbum de recortes, que é todo composto de figuras, normalmente se
destina ao uso de crianças. A nossa casa deve ser construída com a substancial
alvenaria da doutrina, sobre os profundos alicerces da inspiração. As suas
colunas devem ser de sólido argumento escriturístico, e cada pedra da verdade
deve ser cuidadosamente colocada em seu lugar. E depois as janelas devem ser
dispostas na ordem devida; “três fileiras”, se quisermos; “luz contra luz”,
como a casa da floresta no Líbano. Mas não se constrói uma casa por amor de
suas janelas, nem se estrutura um sermão com o objetivo de adaptá-lo a um
apólogo favorito. Uma janela é simplesmente uma conveniência subordinada a todo
o projeto, e assim é a melhor ilustração. Seremos deveras tolos se compusermos
um discurso com o fim de ostentar uma metáfora; tolos como o arquiteto que
construísse uma catedral com o objetivo de exibir um vitral colorido”.[3]
A palavra de ordem é: equilíbrio. Use, sim, ilustrações, mas
use com equilíbrio. Que seu edifício (sermão), tenha grossas paredes de
doutrina, e também algumas janelas (ilustrações) por onde o sol possa entrar,
arejando e iluminando sua mensagem.
Rikison Moura, V. D. M
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