terça-feira, 3 de março de 2015

ILUSTRAÇÕES: A ARTE DE CONVERTER OUVIDOS EM OLHOS.

Esse texto trata de uma das ferramentas utilizadas num sermão: as ilustrações. Ferramenta essa que confesso, tem tido pouco uso em minhas débeis mãos, porém, ao analisarmos a vida e o ministério dos grandes pregadores, podemos perceber que eles tinham essa ferramenta sempre bem afiada.
As ilustrações possuem a capacidade de tornar a nossa pregação vívida, trazendo o ouvinte para dentro do sermão, despertando suas emoções e percepções da verdade falada. Um antigo provérbio afirma: “Eloquência é converter ouvidos em olhos”. Penso que foi isso que Matthew Wilks fez quando ilustrou o seguinte texto: “Vede prudentemente como andais”. E começou o sermão dizendo: “Vocês já viram um gato andando em cima de um muro forrado de cacos de vidro de garrafas quebradas? Se já, vocês têm uma precisa ilustração do que quer dizer a injunção “vede prudentemente como andais”.

Essa arte foi empregada com muito sucesso por George Whitefield. Suas ilustrações eram cativantes, quase palpáveis. Um dia ele retratou a cena de um homem cego e o seu cão andando na beira de um precipício. O cego sem perceber o perigo que estava correndo, cada vez mais se aproximava do perigoso abismo, seus pés estavam quase resvalando pela borda. Enquanto descrevia a cena de forma tão vívida, o Lorde Chesterfield saltou da cadeira e gritou: “Meu Deus, ele se foi!”. Ao que Whitefield respondeu: “Não, meu, Lorde, não se foi de vez ainda; esperemos que se salve”. Depois prosseguiu falando do cego conduzido por sua razão, demonstrado que um homem conduzido somente pela razão está prestes a cair no inferno.
As ilustrações prendem a atenção dos ouvintes, preparando terreno para a aplicação da verdade divina, tornando fácil a memorização da verdade. Por exemplo, podemos usar a ilustração de D.L. Moody para reforçar o ensino acerca do perigo de confiar nas riquezas:
“Falaram-me de um ricaço que morreu recentemente. A morte chegou inesperadamente a ele, como quase sempre acontece, e ele mandou chamar o seu advogado para redigir o seu testamento. E se pôs a distribuir as suas propriedades. Quando chegou a vez da mulher e do filho, disse que queria que eles ficassem com a casa. Mas a criança não entendia o que era a morte. Ela estava e perto e disse: “Papai, você tem casa na terra para onde vai?” A flecha atingiu-lhe o coração; porém era tarde demais. Ele percebeu o seu erro. Não tinha casa nenhuma além do túmulo”.
Um outro mensageiro da graça que fazia uso genial de ilustrações era Charles Spurgeon. O seu livro lições aos meus alunos, volume 3, editado pela PES, (Publicações Evangélicas Selecionadas) é dedicado somente a esse assunto. Como sabemos, Spurgeon possuía um senso de humor natural, nada forçado ou leviano, mas ele mesmo confessa que algumas pessoas muito delicadas e especiais expressavam o seu horror pelas histórias que ele contava. Porém, ele não se abate diante do melindre dessas pessoas, e lembra-se que Deus abençoou as ilustrações utilizadas por ele, e então, brilhantemente, ele passa a narrar a seguinte história:
“Um homem levava uma alabarda e foi atacado por um cachorro pertencente a um nobre. Claro que, defendendo-se, matou o animal. O nobre ficou muito zangado, e perguntou ao homem como ousara matar o cão. O homem replicou que, se não o matasse, o cão o morderia e o despedaçaria. “Bem”, disse o nobre, “mas o senhor não deveria tê-lo golpeado na cabeça com a alabarda; por que não bateu no cão com o cabo?” “Meu senhor” respondeu o homem, “eu o teria feito, se ele tivesse tentado morder-me com a cauda”. Assim, quando lido com o pecado, alguns dizem: “Por que você não o trata com delicadeza? Por que não lhe fala com linguagem cortês?” E respondo: “Eu faria isso se ele me mordesse com a cauda; todavia como vejo que ele me trata rudemente, rudemente o tratarei. E qualquer tipo de arma que me ajude a matar o monstro, não acharei imprópria para a minha mão”. [1]
Acredito que o que foi dito acima já foi mais do que suficiente para demonstrar a importância das ilustrações no sermão. Elas são como janelas que iluminam o edifício. Usando essa imagem das janelas, o reverendo Spurgeon declarou: “As janelas tornam uma habitação muito mais aprazível e amena, e assim as ilustrações tornam um sermão agradável e interessante. Um edifício sem janelas seria uma prisão, e não uma casa, pois seria completamente escura, e ninguém se interessaria em alugá-lo. Do mesmo modo, discurso sem metáfora é insípido e fastidioso, e envolve mortificante enfado da carne”.[2]   
Porém, o mesmo Spurgeon alerta para o perigo do exagero:
Ilustrem, sim, mas não deixem que o sermão seja todo ele ilustrações, caso em que só será próprio para uma assembleia de simplórios. Um livro se beneficia pelas gravuras da ilustração, mas um álbum de recortes, que é todo composto de figuras, normalmente se destina ao uso de crianças. A nossa casa deve ser construída com a substancial alvenaria da doutrina, sobre os profundos alicerces da inspiração. As suas colunas devem ser de sólido argumento escriturístico, e cada pedra da verdade deve ser cuidadosamente colocada em seu lugar. E depois as janelas devem ser dispostas na ordem devida; “três fileiras”, se quisermos; “luz contra luz”, como a casa da floresta no Líbano. Mas não se constrói uma casa por amor de suas janelas, nem se estrutura um sermão com o objetivo de adaptá-lo a um apólogo favorito. Uma janela é simplesmente uma conveniência subordinada a todo o projeto, e assim é a melhor ilustração. Seremos deveras tolos se compusermos um discurso com o fim de ostentar uma metáfora; tolos como o arquiteto que construísse uma catedral com o objetivo de exibir um vitral colorido”.[3]
A palavra de ordem é: equilíbrio. Use, sim, ilustrações, mas use com equilíbrio. Que seu edifício (sermão), tenha grossas paredes de doutrina, e também algumas janelas (ilustrações) por onde o sol possa entrar, arejando e iluminando sua mensagem.

Rikison Moura, V. D. M



[1] Lições Aos Meus Alunos, vol 3, PES, p. 55
[2] Idem, p. 9
[3] Idem, p. 13

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