No século 19 um grande homem de Deus
chamado Charles Haddon Spurgeon levantou-se contra os erros de seu tempo. No
apagar das luzes de seu ministério, Spurgeon escreveu na sua revista mensal A Espada e a Colher de Pedreiro, uma série
de artigos intitulados: “O Declínio”.
Esses artigos eram um alerta de Spurgeon acerca do modernismo que estava
negando as principais doutrinas do cristianismo. Embora Spurgeon fosse um
pregador de influência internacional e a voz mais poderosa da Inglaterra muitos
não lhe deram ouvidos. Acharam exageradas e absurdas as suas acusações. A União
Batista aprovou a censura contra o membro mais ilustre da União; apenas cinco,
dos quase cem participantes votaram a favor de Spurgeon.
Mas Spurgeon estava resoluto. Ele estava
pisando no terreno seguro da verdade. Suas denúncias eram verdadeiras. De
maneira nenhuma Spurgeon trairia suas convicções cristãs e sua consciência
esclarecida. A Controvérsia do Declínio
se constituiu em desgosto perpétuo para Spurgeon, até sua morte no dia 31 de
Janeiro de 1892. Amigos íntimos, e até mesmo alguns dos alunos do seu Colégio
de Pastores, voltaram-se contra ele. Mas até o fim, Spurgeon deixou claro que
não se arrependeu da posição que assumira.
As predições de Spurgeon eram
verdadeiras. O evangelicalismo na Inglaterra foi dizimado no século XX. Hoje a
Europa, lugar que foi o berço do Protestantismo no século XVI, de movimentos
como o Puritanismo, e de firmes
teologias como o Calvinismo, hoje é
conhecida como: “Continente Pós-Cristão”.
Onde as heresias entram, elas matam a igreja. Onde o erro se aninha e não
encontra uma voz que clame contra ela, a morte reina.
O apóstolo Paulo em seus dias bradou
contra o erro que se infiltrava nas comunidades cristãs que ele havia fundado
em meio às trevas do paganismo. Uma dessas heresias era a heresia de colossos. Em um artigo anterior descrevemos o legalismo
que fazia parte da heresia que perturbava os colossenses, mas um outro mal que
também perturbava a igreja de Colossos e que hoje é prevalecente em nossos dias
é o sincretismo religioso.
Os falsos mestres de Colossos tinham
visões, adoravam os anjos e os espíritos elementares. A teologia deles era
procedente de suas visões, e não das Santas Escrituras. Esse misticismo era
irracional. Não era um avanço na caminhada da fé, mas um retrocesso, um retorno
ao tosco paganismo. Esses falsos mestres desconsideravam a Palavra de Deus,
davam mais valor ao sentimento do que a razão. Warren Wiersbe corretamente
escreveu que “esse cerimonial místico era envolvido por uma falsa humildade
que, na verdade, era uma expressão de orgulho”.[1]
Hoje vemos uma explosão de sincretismo
no seio da igreja. Homens que recebem “visões” e “revelações” absurdas e se
irritam contra aqueles que depositam sua confiança na Palavra de Deus. Há
igrejas que adoram os anjos ao invés de adorarem á Deus. Os anjos são criaturas
de Deus e ministros a serviço de Deus (Sl 103.20; Hb 1.14). O apóstolo Paulo
ensinou que Cristo tem preeminência sobre os anjos (Cl 1.16,17,20; 2.9,15). Adorar
a criatura no lugar do Criador não agrada a Deus, pelo contrário, provoca a Sua
ira (Rm 1.24,25); os anjos não aceitam adoração humana (Ap 19.10; 22.8,9).
O sincretismo distorce a obra de Cristo,
visto que incorpora a ela várias outras crenças que fundamentalmente são
contrárias ao ensino cristão. O sincretismo é uma mistura perigosa, um produto
hibrido. É uma teologia de remendos, é a teologia para todos os gostos, que
incorpora várias práticas pagãs dando a elas o título de cristão. Essa visão
traz de volta a ameaça do ecumenismo, visto que ela tenta colocar todos debaixo
do mesmo teto. Eles dizem: “Não importa se você é católico, espírita ou
budista, venha adorar a Deus conosco”. O sincretismo prega a unidade divorciada
da verdade. E infelizmente, esses grupos crescem de maneira assustadora no
Brasil.
Talvez uma das razões do crescimento
significativo do sincretismo sejam as influências religiosas do nosso povo que
o transformaram num verdadeiro caldeirão religioso. Qual o nosso pano de fundo
religioso? De onde viemos? Quais são as influências religiosas do nosso país? Fomos
influenciados pelo catolicismo europeu, o espiritismo Kardecista, a pajelança
indígena e os cultos afros. Sem dúvida o Brasil é um caldeirão religioso.
Então, se alguém tem a “brilhante” ideia de incorporar tudo isso numa única
coisa o sucesso é certo. Daí a razão de termos igrejas que se denominam cristãs
que são adeptas do sal grosso, da rosa ungida, do manto consagrado, da quebra
de maldição, das entrevistas com o demônio, etc. Além desse pandemônio, muitos
enganadores aproveitam-se da superstição típica do povo brasileiro para enganar
os incautos, vendendo essas bugigangas como se fossem amuletos.
Portanto, dentro da perspectiva do
sincretismo não existe nenhum problema em ser um cristão e ao mesmo tempo
abraçar ou incorporar em seus cultos práticas comuns ao paganismo. Mas a
pergunta que deve ser feita não é se o sincretismo funciona, pois está provado
que sim. Mas a pergunta que deve ser feita é a seguinte: isso é correto? Possui
apoio bíblico? A resposta é não. Devemos ter em mente que nem tudo que dá certo
é certo. Nem tudo que funciona pode ser considerado bom. Como dizem os mais
velhos: nem tudo que reluz é ouro! Uma de minhas reclamações em relação ao
sincretismo é que ele leva á igreja ao conformismo com o mundo. Ele conduz a
igreja para mais perto do mundo, e consequentemente para mais longe de Deus. O
sincretismo visa atrair as pessoas pela igualdade e não pela diferença. No sincretismo o mundo vem para dentro da igreja
e sucumbe as suas influências malignas.
John MacArthur compreendeu bem essa
tendência ao escrever:
A igreja se acomodou á nossa cultura ao
inventar um tipo de cristianismo onde o tomar a sua cruz tornou-se opcional ou,
até mesmo impróprio. De fato, muitos dos membros das igrejas do ocidente creem
que servirão melhor a Deus se confrontarem o mundo o menos possível.
Tendo incorporado os valores do mundo, o
cristianismo em nossa sociedade encontra-se moribundo. O mundanismo e a
autoindulgência vêm sutilmente, porém efetivamente, devorando o coração da
igreja. O evangelho frequentemente pregado em nossos dias está tão distorcido
que oferece o crer em Cristo como nada mais do que um simples meio para o
contentamento e a prosperidade. O escândalo da cruz (Gl 5.11) tem sido
sistematicamente removido, de modo que a mensagem se torne mais aceitável aos
incrédulos. A igreja, de alguma forma, concebeu a ideia de que pode declarar a
paz com os inimigos de Deus.[2]
Movidos por pura arrogância, os mestres
gnósticos afirmavam que estavam elevando o nível da fé cristã, quando bem da
verdade, estavam depreciando-a. Paulo combate esses hereges e alerta os crentes
escrevendo o seguinte: “Ninguém se faça
árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se
em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal” (Cl 2.18).
Aqui nós podemos perceber claramente
qual é á base do sincretismo. “... baseado
em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal”. O sincretismo
não é bíblico. Ele não emana das Escrituras, mas está arraigado no sentimento
humano. Vemos florescer em nossos dias pessoas que colocam suas experiências
acima da Palavra de Deus. A cada dia ouvimos relatos absurdos de pessoas que
dizem ter visto ou ouvido isso e aquilo e que fazem dessas experiências
doutrina cristã. O sincretismo é uma religião mística. Sua autoridade é o
próprio individuo. Cada um constitui-se autoridade de si mesmo. Para eles suas
experiências e emoções são incontestáveis. O sentimento espontâneo torna-se
mais importante do que o fato objetivo. A intuição sobrepuja a razão; a
impressão interior, a realidade externa. È engodo toda religião que dá mais
valor ás visões, ensinos e experiências dos homens que ao ensino de Cristo.[3]
Paulo diz de maneira clara que tudo isso é pura
carnalidade. Os falsos mestres se diziam espirituais, mas enganava-se a si
mesmo, não passando de homens ensoberbecidos. Por esse motivo, o crescimento do
“evangelho sincrético” não é genuíno, pois eles estão desligados de Cristo (Cl
2.19). Não há conexão entre o sincretismo e Cristo, a cabeça. Se não existe
conexão entre o corpo e a cabeça então o corpo está morto. È exatamente isso
que acontece ao sincretismo. Ele pode até proclamar pertencer á Cristo, mas
está morto. Pode afirmar ser verdadeiro, mas é falso. Pode arrotar toda a sua
arrogância se dizendo espiritual, mas é pragmático e irracional.
Rikison Moura, V. D. M
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