terça-feira, 1 de julho de 2014

IGREJA: FUJA DO SINCRETISMO!

No século 19 um grande homem de Deus chamado Charles Haddon Spurgeon levantou-se contra os erros de seu tempo. No apagar das luzes de seu ministério, Spurgeon escreveu na sua revista mensal A Espada e a Colher de Pedreiro, uma série de artigos intitulados: “O Declínio”. Esses artigos eram um alerta de Spurgeon acerca do modernismo que estava negando as principais doutrinas do cristianismo. Embora Spurgeon fosse um pregador de influência internacional e a voz mais poderosa da Inglaterra muitos não lhe deram ouvidos. Acharam exageradas e absurdas as suas acusações. A União Batista aprovou a censura contra o membro mais ilustre da União; apenas cinco, dos quase cem participantes votaram a favor de Spurgeon.
Mas Spurgeon estava resoluto. Ele estava pisando no terreno seguro da verdade. Suas denúncias eram verdadeiras. De maneira nenhuma Spurgeon trairia suas convicções cristãs e sua consciência esclarecida. A Controvérsia do Declínio se constituiu em desgosto perpétuo para Spurgeon, até sua morte no dia 31 de Janeiro de 1892. Amigos íntimos, e até mesmo alguns dos alunos do seu Colégio de Pastores, voltaram-se contra ele. Mas até o fim, Spurgeon deixou claro que não se arrependeu da posição que assumira.
As predições de Spurgeon eram verdadeiras. O evangelicalismo na Inglaterra foi dizimado no século XX. Hoje a Europa, lugar que foi o berço do Protestantismo no século XVI, de movimentos como o Puritanismo, e de firmes teologias como o Calvinismo, hoje é conhecida como: “Continente Pós-Cristão”. Onde as heresias entram, elas matam a igreja. Onde o erro se aninha e não encontra uma voz que clame contra ela, a morte reina.
O apóstolo Paulo em seus dias bradou contra o erro que se infiltrava nas comunidades cristãs que ele havia fundado em meio às trevas do paganismo. Uma dessas heresias era a heresia de colossos. Em um artigo anterior descrevemos o legalismo que fazia parte da heresia que perturbava os colossenses, mas um outro mal que também perturbava a igreja de Colossos e que hoje é prevalecente em nossos dias  é o sincretismo religioso.  
Os falsos mestres de Colossos tinham visões, adoravam os anjos e os espíritos elementares. A teologia deles era procedente de suas visões, e não das Santas Escrituras. Esse misticismo era irracional. Não era um avanço na caminhada da fé, mas um retrocesso, um retorno ao tosco paganismo. Esses falsos mestres desconsideravam a Palavra de Deus, davam mais valor ao sentimento do que a razão. Warren Wiersbe corretamente escreveu que “esse cerimonial místico era envolvido por uma falsa humildade que, na verdade, era uma expressão de orgulho”.[1]
Hoje vemos uma explosão de sincretismo no seio da igreja. Homens que recebem “visões” e “revelações” absurdas e se irritam contra aqueles que depositam sua confiança na Palavra de Deus. Há igrejas que adoram os anjos ao invés de adorarem á Deus. Os anjos são criaturas de Deus e ministros a serviço de Deus (Sl 103.20; Hb 1.14). O apóstolo Paulo ensinou que Cristo tem preeminência sobre os anjos (Cl 1.16,17,20; 2.9,15). Adorar a criatura no lugar do Criador não agrada a Deus, pelo contrário, provoca a Sua ira (Rm 1.24,25); os anjos não aceitam adoração humana (Ap 19.10; 22.8,9).
O sincretismo distorce a obra de Cristo, visto que incorpora a ela várias outras crenças que fundamentalmente são contrárias ao ensino cristão. O sincretismo é uma mistura perigosa, um produto hibrido. É uma teologia de remendos, é a teologia para todos os gostos, que incorpora várias práticas pagãs dando a elas o título de cristão. Essa visão traz de volta a ameaça do ecumenismo, visto que ela tenta colocar todos debaixo do mesmo teto. Eles dizem: “Não importa se você é católico, espírita ou budista, venha adorar a Deus conosco”. O sincretismo prega a unidade divorciada da verdade. E infelizmente, esses grupos crescem de maneira assustadora no Brasil.
Talvez uma das razões do crescimento significativo do sincretismo sejam as influências religiosas do nosso povo que o transformaram num verdadeiro caldeirão religioso. Qual o nosso pano de fundo religioso? De onde viemos? Quais são as influências religiosas do nosso país? Fomos influenciados pelo catolicismo europeu, o espiritismo Kardecista, a pajelança indígena e os cultos afros. Sem dúvida o Brasil é um caldeirão religioso. Então, se alguém tem a “brilhante” ideia de incorporar tudo isso numa única coisa o sucesso é certo. Daí a razão de termos igrejas que se denominam cristãs que são adeptas do sal grosso, da rosa ungida, do manto consagrado, da quebra de maldição, das entrevistas com o demônio, etc. Além desse pandemônio, muitos enganadores aproveitam-se da superstição típica do povo brasileiro para enganar os incautos, vendendo essas bugigangas como se fossem amuletos.
Portanto, dentro da perspectiva do sincretismo não existe nenhum problema em ser um cristão e ao mesmo tempo abraçar ou incorporar em seus cultos práticas comuns ao paganismo. Mas a pergunta que deve ser feita não é se o sincretismo funciona, pois está provado que sim. Mas a pergunta que deve ser feita é a seguinte: isso é correto? Possui apoio bíblico? A resposta é não. Devemos ter em mente que nem tudo que dá certo é certo. Nem tudo que funciona pode ser considerado bom. Como dizem os mais velhos: nem tudo que reluz é ouro!  Uma de minhas reclamações em relação ao sincretismo é que ele leva á igreja ao conformismo com o mundo. Ele conduz a igreja para mais perto do mundo, e consequentemente para mais longe de Deus. O sincretismo visa atrair as pessoas pela igualdade e não pela diferença.  No sincretismo o mundo vem para dentro da igreja e sucumbe as suas influências malignas.
John MacArthur compreendeu bem essa tendência ao escrever:
A igreja se acomodou á nossa cultura ao inventar um tipo de cristianismo onde o tomar a sua cruz tornou-se opcional ou, até mesmo impróprio. De fato, muitos dos membros das igrejas do ocidente creem que servirão melhor a Deus se confrontarem o mundo o menos possível.
Tendo incorporado os valores do mundo, o cristianismo em nossa sociedade encontra-se moribundo. O mundanismo e a autoindulgência vêm sutilmente, porém efetivamente, devorando o coração da igreja. O evangelho frequentemente pregado em nossos dias está tão distorcido que oferece o crer em Cristo como nada mais do que um simples meio para o contentamento e a prosperidade. O escândalo da cruz (Gl 5.11) tem sido sistematicamente removido, de modo que a mensagem se torne mais aceitável aos incrédulos. A igreja, de alguma forma, concebeu a ideia de que pode declarar a paz com os inimigos de Deus.[2]     
Movidos por pura arrogância, os mestres gnósticos afirmavam que estavam elevando o nível da fé cristã, quando bem da verdade, estavam depreciando-a. Paulo combate esses hereges e alerta os crentes escrevendo o seguinte: “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal” (Cl 2.18).
Aqui nós podemos perceber claramente qual é á base do sincretismo. “... baseado em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal”. O sincretismo não é bíblico. Ele não emana das Escrituras, mas está arraigado no sentimento humano. Vemos florescer em nossos dias pessoas que colocam suas experiências acima da Palavra de Deus. A cada dia ouvimos relatos absurdos de pessoas que dizem ter visto ou ouvido isso e aquilo e que fazem dessas experiências doutrina cristã. O sincretismo é uma religião mística. Sua autoridade é o próprio individuo. Cada um constitui-se autoridade de si mesmo. Para eles suas experiências e emoções são incontestáveis. O sentimento espontâneo torna-se mais importante do que o fato objetivo. A intuição sobrepuja a razão; a impressão interior, a realidade externa. È engodo toda religião que dá mais valor ás visões, ensinos e experiências dos homens que ao ensino de Cristo.[3]
Paulo diz de maneira clara que tudo isso é pura carnalidade. Os falsos mestres se diziam espirituais, mas enganava-se a si mesmo, não passando de homens ensoberbecidos. Por esse motivo, o crescimento do “evangelho sincrético” não é genuíno, pois eles estão desligados de Cristo (Cl 2.19). Não há conexão entre o sincretismo e Cristo, a cabeça. Se não existe conexão entre o corpo e a cabeça então o corpo está morto. È exatamente isso que acontece ao sincretismo. Ele pode até proclamar pertencer á Cristo, mas está morto. Pode afirmar ser verdadeiro, mas é falso. Pode arrotar toda a sua arrogância se dizendo espiritual, mas é pragmático e irracional.
Rikison Moura, V. D. M





[1] Warren Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo, p. 170.
[2] Com Vergonha do Evangelho, p. 94
[3] Hernandes Dias Lopes, Colossenses, p. 151.

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