Temos observado com tristeza o
crescimento daquilo que tem sido chamado de “desigrejados”.
São pessoas que se afastaram da igreja e que não se une a nenhuma
denominação cristã. Alguns destes se tornam extremamente críticos contra a
igreja, pensando que farão maiores progressos se ficarem bem longe dela.
Algumas destas pessoas se
denominam calvinistas, mas não atentaram ainda que o próprio João Calvino foi
um homem que teve um senso elevado acerca da igreja. Para ele, “Deus poderia
levar os seus à perfeição num só momento; no entanto, Ele quer fazê-los crescer
pouco a pouco, sob os cuidados da igreja”. [1]
Calvino via a igreja como uma mãe
que por meio de seu ofício e ministério nutria espiritualmente os crentes. A igreja
é a mãe daqueles cujo Deus é o Pai. A seguir Calvino escreve: “O amparo
paternal de Deus e o testemunho peculiar da vida espiritual estão limitados ao
seu rebanho, de modo que o afastar-se da igreja será sempre danoso”. [2]
Para aqueles que não reconhecem
ou não se submetem às autoridades eclesiásticas, Calvino nos lembra de que é o
desejo do Senhor “que nós nos apliquemos não somente à leitura pessoal, mas
também à audição dos mestres por Ele estabelecidos para nos auxiliar neste
mister. E há nisso dupla utilidade. Por um lado, é prova de obediência ouvirmos
os seus ministros como se Ele mesmo estivesse a falar; por outro, assim o
fazendo, Deus leva em consideração nossa fraqueza, pois mediante seus
intérpretes, Ele nos fala de modo humano, preferindo nos atrair pelos homens
que nos aterrar manifestando sua majestade”. [3]
Sendo assim, “mostram-se ingratos
os que acham que a autoridade doutrinal é diminuída pela condição daqueles que
foram chamados a ensinar”. [4]
Mas Calvino observa que “muitos
fanáticos impelidos pela soberba, pela presunção e pela inveja se persuadem de
que farão maiores progressos lendo ou meditando em particular que participando
das assembléias públicas, por considerá-las desprezíveis e inúteis. Mas, uma
vez que rompem o sagrado vínculo da unidade, não escaparão do justo castigo
desse ímpio divórcio, que por fascinação conduz a erros pestíferos e terríveis
delírios”. [5]
Para Calvino, a igreja do Senhor,
poderia ser identificada por meio de dois sinais externos, a saber: a pregação
da Palavra e a administração dos sacramentos segundo a instituição de Cristo. A
seguir, ele emenda com esta advertência: “Quão perigosa e perniciosa é a
tentação que se insinua no espírito quando se sugere a separação de uma
congregação em que se vêem os sinais e marcas com que o Senhor quis distinguir
sua Igreja”. [6]
É o objetivo de Satanás nos
conduzir a uma destas duas posições: “nos tornar incapazes de reconhecer a
Igreja, abolindo ou destruindo os verdadeiros e autênticos sinais pelos quais a
reconhecemos; ou, então levar-nos a desprezá-los quando dela nos afastamos por
manifesta defecção”. [7]
Para àqueles que se separam da
igreja dizendo que ali tem muitos hipócritas e pessoas más, Calvino nos lembra
o que aconteceu na igreja dos coríntios e qual a postura do apóstolo Paulo.
Após lembrar-se dos vários erros que acontecia naquela igreja, Calvino olha
para aquilo que Paulo fez: Paulo não separou-se deles e nem os fulminou com um
anátema, mas reconheceu-os e os proclamou Igreja de Cristo e sociedade dos
santos. Mesmo fazendo duras admoestações, Paulo não se separa deles.
Exemplo semelhante é o dos
profetas. Mesmo a religião estando em grande parte corrompida, Calvino mostra
que em meio aos ímpios, havia mãos puras que se erguia ao céu, e Deus era
adorado. “Se os santos profetas não se atreveram a se afastar da Igreja por
conta daqueles muitos e graves pecados, não só de uns poucos, mas de quase todo
o povo, seria muita presunção nossa ousarmos nos separar da comunhão da Igreja
só porque a vida de alguém não corresponde ao nosso juízo ou à profissão de fé
cristã”. [8]
Assim sendo, “do mesmo modo como
é necessário crer na Igreja que nos é invisível mas é conhecida por Deus, assim
manda que honremos a Igreja visível e nos mantenhamos em comunhão com ela”. [9]
Pb. Rikison Moura.
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